31/08/11

Acredito nos finais irreversíveis, na impossibilidade real do reencontro, no poder afirmativo da ausência, no esbatimento das lembranças, hoje inteiras e amanhã pela metade. Acredito no dedo que se contrai antes do send, no delete antes do envio, no move to draft, nas palavras em suspenso no nada. Acredito no SMS não enviado, no telefonema que não chega a ser feito, no nome que fica na lista, perdido entre tantos outros contactos. Acredito no dito que nunca será dado pelo não dito, na vida que continua a esgalgar-se à nossa frente, nos homens e nas mulheres que nos apagam e apagarão de vez um do outro. Acredito nos teus e nos meus amores maiores, nas opções certas e na determinação da escolha. Acredito que se pode jogar e ganhar, mesmo quando se pensa que se perde, e também creio no inverso: que às vezes se perde mas se está convencido de que se ganhou. No entanto, não acredito numa única palavra do que me disseste para além daquilo que é a verdade. Vais sentir-me em ti durante algum tempo,depois vais esquecer-me, e deixar que a memória se encarregue de me apagares de ti. Vais esquecer o meu nome, os meus olhos e o meu cheiro. Afinal podes já ter esquecido muito, atropelado pela realidade que te rodeia. Mas as saudades, essas são bem reais, e não são só minhas. As saudades têm cheiro de jasmim e de terra molhada, de incenso e lareira. De noites mal dormidas, de viagens de comboio e de beijos mágicos. As saudades têm a forma de aviões de papel espalhados pela casa, de músicas cantadas em coro, de gargalhadas e de partilha, de longas conversas e de olhares silenciosos...

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